Muitos de nós podemos ter como ideal de vida seria viver uma “liberdade sem limites” e sonhar em alçar o mesmo voo de liberdade que os pássaros desfrutam. Mas, precisamos parar para refletir no que consiste essa liberdade.
O jovem vive como que enfeitiçado pelo desejo de liberdade. Esse desejo tão forte, principalmente na juventude, é dom do próprio Criador. Se Deus nos deu esse desejo, têm com isso objetivos. Portanto, a finalidade deste desejo não é a indisciplina e fazer o que se quer, independe de quão imprudente possa ser.
A liberdade que nos foi dada por Deus, não corresponde a libertinagem. A libertinagem é na verdade uma deturpação da nossa liberdade, e toda deturpação provém do inimigo de Deus Criador. Há quem pense que “liberdade” é se contrapor a toda regra. No entanto, Dom Tihámer Tóth, Bispo da Hungria, sabiamente escreveu:
“Todo instinto abandonado a própria sorte é cego”.
Vamos trazer essa reflexão para a educação das crianças. Há quem defenda que a criança deva ser educada de uma forma “livre”; ou seja: dar-lhe instruções, estabelecer regras não seria necessário, apenas tiraria o seu prazer diante das experiências da vida. No entanto, será que nossas crianças teriam a noção correta de como amadurecer e forjar um caráter forte sem instrução? Sem um caminho seguro pelo qual seguir?
Quando damos instruções às crianças e lhes estabelecemos regras não estamos tirando a liberdade das crianças, mas orientando-as para melhor forma de agir em sua liberdade. Como o pedaço de madeira que colocamos ao lado de uma planta, afim de lhe indicar o “caminho de cima” durante o período de seu crescimento. Outro escrito sábio do Bispo da Hungria confirma este pensamento: “Nós também fixamos a cepa da videira às estacas, mas não para contrariá-la em sua liberdade, mas para dirigir o seu reto entendimento”. Uma educação sem regras e instrução não é educação, é deixar as crianças “livres” e desavisadas, correndo rumo a um precipício.
Quando você faz o que bem entende isso te ajuda a sair do comodismo, vencer o mau humor, ser menos superficial e inconstante? Sabemos que a resposta é não. Aos poucos, vamos nos tornando escravos de nós mesmos.
Em seu Caminho de Perfeição, já alertava Santa Teresa D’Ávila:
“Ó minhas irmãs, não vos deis por seguras, nem vos deiteis a dormir. Será com quem se deita bem sossegado, trancando muito bem as portas por medo dos ladrões e os deixa dentro de casa. Ficamos nós mesmas e bem sabeis que não há pior ladrão! Se cada uma não andar com grande cuidado, contradizendo a própria vontade, como se fora este o mais importante de todos os negócios, muitas coisas haverão para tirar essa santa liberdade de espírito que impele a alma a voar para o seu Criador sem ir carregada de terra e chumbo”. (Caminho de Perfeição III, 10)
Estamos confundindo liberdade com falta de caráter e educação da vontade.
Quando estamos na empresa que trabalhamos podemos pensar: “Gostaria que meu patrão não estivesse aqui para que eu fique livre”. Isso não é liberdade, é uma desculpa para justificar a preguiça e a fuga do dever. A liberdade não deve nos levar a fugir dos deveres, mas a com amor, abraça-los!
Finalmente, quero responder à pergunta de entrada deste artigo: “O que é a liberdade”. A liberdade é uma característica da alma, e uma dessas características que não adoece e que nem se pode perder. Não interessa a circunstância de um homem, ele é livre e sempre será.
Viktor Frankl, médico e psiquiatra, escreveu: “Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida. Quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável devemos transformá-la e quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos.”. Ou seja: mesmo quando as coisas não são como queremos isso não quer dizer que não somos livres, porque a liberdade de nos posicionar diante das circunstâncias da vida nunca poderá nos ser tirada.
Por último, Deus nos fez livres para que possamos fazer o bem, para buscarmos em tudo aquilo que é bom, belo e verdadeiro. Todos somos livres para nos posicionar e devemos buscar ter um discernimento apurado, para podermos nos posicionar bem diante das circunstâncias da vida.
Circunstâncias essas que podem ser contrariedades grandes como, por exemplo, uma prisão injusta. Mas, também contrariedades mais comuns, como estar preso em um elevador, a morte de uma pessoa querida, ser maltratado… Não podemos mudar o que nos fizeram, mas podemos decidir como queremos agir.
“É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão.” (Gálatas 5,1)
Deus abençoe!