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São Josemaria Escrivá e os Anjos da Guarda

NA PRESENÇA DOS ANJOS, eu Vos louvo, Senhor meu Deus1.

A vida e os ensinamentos de Jesus estão repletos da presença ministerial dos Anjos. Gabriel comunica a Maria que vai ser Mãe do Salvador. Um anjo ilumina e tranqüiliza José; também há anjos que anunciam o nascimento de Jesus aos pastores de Belém. A fuga para o Egito, as tentações do Senhor no deserto, a longa agonia no Horto de Getsêmani, a Ressurreição e a Ascensão são igualmente presenciadas por esses servidores de Deus que, por sua vez, velam constantemente pela Igreja e por cada um dos seus membros, como testemunham os Atos dos Apóstolos2 e a Tradição primitiva. Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do homem3.

Muitos santos e muitas almas que estiveram bem perto de Deus distinguiram-se na sua vida aqui na terra pela sua amizade com o seu Anjo da Guarda, a quem recorriam muito freqüentemente4. O Bem-aventurado Josemaría Escrivá teve uma particular devoção pelos Anjos da Guarda. E foi precisamente na festa que a Igreja celebra hoje, que o Senhor lhe fez ver com toda a clareza a fundação do Opus Dei, por meio do qual ressoaria em pessoas de todas as condições humanas e sociais a chamada à santidade no mundo, no meio dos afazeres habituais, através das circunstâncias em que se desenvolve a vida corrente. Mons. Escrivá tratava com toda a intimidade o seu Anjo da Guarda e cumprimentava o da pessoa com quem conversava5; dizia do Anjo da Guarda que era um “grande cúmplice” nas tarefas apostólicas, e também pedia-lhe favores materiais. Em certa época da sua vida, chamou-lhe o meu relojoeiro, pois o seu relógio parava com freqüência e, como não tinha dinheiro para mandá-lo consertar, encarregava-o de que o fizesse funcionar6. Dedicava um dia da semana – a terça-feira – a cultivar essa devoção com mais empenho7.

Certa vez, vivendo em Madrid, no meio de um ambiente de perseguição religiosa agressivamente anticlerical, avançou para ele, na rua, um sujeito de péssima catadura com a clara intenção de agredi-lo. De repente, interpôs-se inexplicavelmente outra pessoa, que repeliu o agressor. Foi coisa de um instante. Já a salvo, o seu protetor aproximou-se dele e disse-lhe ao ouvido: “Burrinho sarnento, burrinho sarnento!”, palavras com as quais o Servo de Deus se definia humildemente a si mesmo, na intimidade da sua alma, e que apenas o seu confessor conhecia. A paz e a alegria de reconhecer a visível intervenção do seu Anjo da Guarda invadiram-lhe a alma8. “Ficas pasmado porque o teu Anjo da Guarda te tem prestado serviços patentes. – E não devias pasmar; para isso o colocou o Senhor junto de ti”9.

Hoje pode ser um bom dia para reafirmarmos a nossa devoção ao Anjo da Guarda, pois temos muita necessidade dele: Ó Deus, que na vossa misteriosa providência mandais os vossos Anjos para nos guardarem – dizemos ao Senhor com uma oração da Liturgia da Missa –, concedei que nos defendam de todos os perigos e gozemos eternamente do seu convívio10.

(1) Antífona da comunhão da Missa do dia 2 de outubro;
(2) At 5, 19-20; 12, 7-17;
(3) Jo 1, 51;
(4) cfr. G. Huber, Meu anjo caminhará à tua frente, Prumo-Rei dos Livros, Lisboa, 1990, págs. 33-50;
(5) A. Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, Quadrante, São Paulo, 1989, pág. 138;
(6) ib.;
(7) ib., pág. 138, nota 40;
(8) cfr. ib.;
(9) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 565;
(10) Oração coleta da Missa de 2 de outubro;

Do livro "Hablar con Dios", de Francisco Fernández-Carvajal.

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