Como nós celebramos a Festa da Anunciação em 25 de março, eu convido você a ler essa meditação de São João Paulo II sobre as gloriosas “núpcias” reveladas através dessa festa. Essa é uma tradução privada de um site não disponível publicamente em inglês. Que eu te leve a Glória do Coração do casamento do Céu.
O Espírito Santo e Maria: Modelo de União Nupcial de Deus com a Humanidade.
Audiência Geral de São João Paulo II de 2 de maio de 1990.
1. A revelação do Espírito Santo na Anunciação é a união com o mistério da Encarnação do Filho de Deus e a maternidade divina de Maria. Nós conseguimos ver isso no Evangelho de São Lucas, quando o anjo diz a Virgem: “O Espírito Santo descerá sobre ti” (São Lucas 1, 35). É também a ação do Espírito Santo que provoca a resposta dela, que se manifesta em um ato consciente da liberdade humana: “Faça-se em mim segundo a Tua palavra.” (São Lucas 1, 38). Portanto, na Anunciação nós encontramos o “modelo” perfeito do que a relação pessoal Deus-homem é destinada a ser.
2. Mesmo no Antigo Testamento, essa relação expressa uma qualidade única. Nasce no terreno da Aliança de Deus com o povo escolhido (Israel), e essa Aliança nos textos proféticos é expressa com simbolismo nupcial: é apresentada como o vínculo nupcial entre Deus e a humanidade. É importante lembrar disso para entender a profundidade e a beleza da realidade da Encarnação do Filho como plenitude particular da ação do Espírito Santo.
3. De acordo com o profeta Jeremias, Deus disse ao seu povo: “De longe me aparecia o Senhor: “Amo-te com eterno amor, e por isso a ti estendi o meu favor. Eu te reconstruirei, e serás restaurada, ó virgem de Israel! Virás, ornada de tamborins, participar de alegres danças.” (Jeremias 31, 3-4). Do ponto de vista histórico, nós devemos colocar esse texto em relação à queda de Israel e a fuga (deportação) para Assíria, que humilha as pessoas escolhidas, na medida em que acredita-se abandonadas por Deus. Mas Deus os encoraja, falando como Pai ou Esposo para o jovem amado. A analogia conjugal torna-se ainda mais clara e explícita nas palavras de Isaías, dirigida, durante a época do exílio Babilônico, em direção a Jerusalém, como para uma esposa que não tinha permanecido fiel ao Deus da Aliança: “pois teu esposo é o teu Criador: chama-se o Senhor dos exércitos; teu Redentor é o Santo de Israel: chama-se o Deus de toda a terra. Como uma mulher abandonada e aflita, eu te chamo. Pode-se repudiar uma mulher desposada na juventude? – diz o Senhor, teu Deus. Por um momento eu te havia abandonado, mas com profunda afeição eu te recebo de novo. Em um acesso de cólera volvi de ti minha face. Mas no meu eterno amor, tenho compaixão de ti.” (Is 54, 5-8).
4. Enfatiza-se nos textos citados que o amor nupcial do Deus da Aliança é “eterno”. Diante do pecado de sua esposa, diante da infidelidade do povo escolhido, Deus permite que experiências dolorosas caiam sobre eles, mas apesar disso, Ele as assegura, através dos profetas, que Seu Amor não cessa. Ele supera o mal do pecado para renovar Seu dom. O profeta Oséias declara com uma linguagem ainda mais explícita: “”Eu a desposarei para sempre, conforme a justiça e o direito, com benevolência e ternura. Eu a desposarei com fidelidade e conhecerás o Senhor.” (Oséias 2, 21-22).
5. Esses extraordinários textos proféticos do Antigo Testamento alcançam sua verdadeira realização no mistério da Encarnação. O amor nupcial de Deus em direção a Israel, mas também em direção a todo homem, é realizado na Encarnação de modo que supera todas as expectativas do homem. Nós descobrimos isso nas páginas da Anunciação, em que a Nova Aliança nos é apresentada como Aliança Nupcial de Deus com o homem, de divindade com a humanidade. no contexto dessa Aliança Nupcial, a Virgem de Nazaré, Maria, é a “Virgem-Israel” por excelência da profecia de Jeremias. O Amor Nupcial de Deus, anunciado pelos profetas, concentra-se nela perfeitamente e definitivamente. Ela é também a Virgem-noiva a quem é concedida conceber e produzir o Filho de Deus: o Fruto Único do Amor Nupcial de Deus para a humanidade, representado e resumido de forma abrangente como era em Maria.
6. Descendo sobre Maria na Anunciação, o Espírito Santo é Aquele que, na Trindade, expressa em Sua Pessoa o Amor Nupcial de Deus, aquele amor que é “eterno”. É nesse momento que o Espírito Santo é, de modo único, o Deus-Esposo. No mistério da Encarnação, o Espírito Santo efetua a concepção humana do Filho de Deus, mantendo a transcendência divina. O texto de São Lucas expressa isso de forma precisa: a natureza nupcial do amor de Deus tem uma natureza completamente espiritual e sobrenatural. O que São João virá dizer sobre os cristão se aplica ainda mais ao Filho de Deus, que foi concebido no ventre da Virgem: “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.” (São João 1, 13). Mas, acima de tudo, isso expressa a união suprema de amor, criada entre Deus e o humano por obra do Espírito Santo.
7. Nesse abraço divino na humanidade, Maria responde ao anúncio do anjo com o amor de uma noiva, capaz de responder e se adaptar perfeitamente à eleição divina. Como resultado de tudo isso, desde a época de São Francisco de Assis, a Igreja chama a Virgem de “Esposa do Espírito Santo”. Apenas nesse amor nupcial perfeito, profundamente enraizado na virginal auto-doação à Deus, poderia permitir que Maria se tornasse a “Mãe de Deus”, de forma consciente e digna, no mistério da Encarnação.
8. Na Encíclica Redemptoris Mater eu escrevi: “O Espírito Santo já tendo descido sobre ela, e ela tornou-se sua esposa fiel na Anunciação, acolhendo a Palavra do verdadeiro Deus, oferecendo a ‘submissão completa do intelecto e vontade… e livremente aceitando à verdade revelada por Ele’, na verdade, abandonando-se totalmente a Deus através da ‘obediência da fé’, pelo qual ela respondeu ao anjo: ‘Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua palavra.’” (26).
9. Maria, com este ato e gesto, totalmente contrário ao ato de Eva, tornou-se, em história espiritual da humanidade, a nova Noiva, a nova Eva, Mãe de toda criatura, como os Doutores e Padres da Igreja têm afirmado com frequência. Ela será o tipo e modelo, na Nova Aliança, da união nupcial do Espírito Santo com cada um de nós e com toda humanidade, muito além do contexto compreendido na Antiga Israel: todos os indivíduos e todos os povos serão chamados a receber o presente e a se beneficiar dele em uma nova comunidade de cristãos que receberam o “poder de se tornarem filhos de Deus” (São João 1, 12) e com o batismo renasceram “do Espírito” (São João 3,3) formando a família de Deus.
Traduzido por Natália Marques Costa Texto original: tobinstitute.org/the-holy-spirit-and-mary-model-of-the-nuptial-union-of-god-with-humanity/