O caminho de união com Deus não é uma linha reta, é uma escada. Podemos dizer que existem, portanto, 3 níveis de conversão, 3 amores e 3 sacrifícios. Será que o nosso amor está um nível acima ou abaixo do que imaginamos? Vamos juntos descobrir neste artigo!
Amor servil
Não é à toa que o amor servil seja o primeiro degrau dessa escada, além do mais, ele está enraizado no temor de Deus e já dizia a Palavra de Deus que: “O temor do Senhor é o princípio da Sabedoria” (Provérbios 9, 10).
Antes de mais nada, precisamos entender que muitos hoje em dia buscam “adocicar” o temor de Deus dizendo que ele é somente um respeito para com Deus. Isso acontece, na maioria das vezes, porque as pessoas tentam dissociar o temor do medo, separando-os. Mas, o temor de Deus é medo sim! Não é errado sentir esse medo, esse pavor diante da grandeza e majestade de Deus.
Santo Agostinho mesmo escreveu em suas Confissões: “Eu tremia de medo e ao mesmo tempo ardia de esperança e alegria por tua misericórdia”. (Confissões IX, 4)
Mas, assim como Agostinho, não podemos parar no medo e esse primeiro nível de amor termina assim, no medo de ir para o inferno e perder a recompensa do Céu.
Por isso dizemos que esse amor se chama “amor servil”. Assim como um servo trabalha esperando pela recompensa do seu trabalho e tem medo do padrão, a pessoa que tem um amor neste nível age dessa forma com Deus. Ela só faz aquilo que é sua obrigação e visa as recompensas que terá com esse trabalho.
A pessoa desse nível vive somente um “sofrimento purgativo”, ela, no fundo, só está realmente interessada em ter as condições necessárias para ser salva.
Amor filial
Subindo um degrau, chegamos no amor filial. O Pai é Aquele que diz: “tudo o que é meu é seu”. Dessa forma, como um filho fiel ao Pai, a pessoa que possui este nível de amor já entregou tudo para Deus.
Agora, o amor e os sofrimentos que o amor envolve são gratuitos, não mais por medo ou pela esperança de uma recompensa. O filho não espera salário, férias ou décimo terceiro, porque os campos do Pai, onde ele trabalha, também são os seus campos.
Neste nível a pessoa se empenha em praticar um “sofrimento pacífico”, que é aquele tipo de sofrimento cujo objetivo principal é permanecer na graça.
Mas, a entrega desse filho ainda não é total e completa, existe um nível ainda superior a este amor.
Amor Esponsal
Por fim, chegamos ao amor esponsal, completo, total e gratuito.
Esse é o amor do Esposo e da esposa. Jesus é o Esposo que deitou-se no “leito nupcial da Cruz” para dar a vida pela sua esposa e se entregar totalmente a ela. A esposa então, que recebe esse amor, também deseja ela dar-se toda inteira a Deus.
É o amor de união plena e perfeita, um verdadeiro casamento, onde o amor é como um dom total e gratuito, não uma troca.
Como o único desejo dessa alma é unir-se ao seu Amado, neste nível o sacrifício já se tornou um verdadeiro holocausto onde a pessoa se entrega inteiramente e sem reservas.
Assim, Deus e criatura tornam-se um só, como bem escreveu São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. (Gálatas 2, 20)
Para finalizar, deixo um poema de Santa Teresa de Ávila que ilustra bem como é esse amor:
“Não me move, Senhor para Te amar
O Céu que me prometestes
Nem me move o inferno tão temido
Para deixar por isso de Te ofender.
Tu me moves, Senhor,
Move-me ver-te.Pregado em uma Cruz e escarnecido
Move-me ver teu Corpo tão ferido,
Movem-me tuas afrontas e tua morte.
Move-me enfim teu amor,
E de tal maneira,Que ainda que não houvesse Céu eu te amaria,
E ainda que não houvesse inferno te temeria.
Nada tens que me dar para que eu te queira,
Pois mesmo que eu não esperasse o que espero,
O mesmo que te quero
Eu te quereria”.
Que o Senhor nos dê a graça de crescer de amor em amor!
