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A amizade com os Anjos da Guarda

ORDENOU AOS SEUS ANJOS que te guardassem em todos os teus caminhos… E São Bernardo comenta numa das leituras da Liturgia das Horas de hoje: “Estas palavras devem inspirar-te uma grande reverência, infundir-te uma grande devoção e conferir-te uma grande confiança. Reverência pela presença dos Anjos, devoção pela sua benevolência, confiança pela sua proteção. Estão aqui, portanto, e estão junto de ti, não apenas contigo, mas para teu bem. Estão aqui para te protegerem, para te serem úteis. E embora tenham sido enviados porque Deus lhes deu essa ordem, nem por isso devemos estar-lhes menos agradecidos, pois cumprem essa ordem com muito amor e nos auxiliam nas nossas necessidades, que são tão grandes”1.

Eles te levarão nas suas mãos, para que o teu pé não tropece em pedra alguma2. Sustentam-nos nas suas mãos como um precioso tesouro que Deus lhes confiou. Como os irmãos mais velhos cuidam dos mais novos, assim os Anjos nos assistem até nos introduzirem felizmente na casa paterna. Então terão cumprido a sua missão.

O nosso trato com o Anjo da Guarda deve ter um caráter amistoso, que ao mesmo tempo reconheça a sua superioridade em natureza e em graça. Ainda que a sua presença seja menos sensível que a de um amigo na terra, tem uma eficácia muito maior. Os seus conselhos e sugestões vêm de Deus e penetram mais profundamente que a voz humana. E, ao mesmo tempo, a sua capacidade de ouvir-nos e compreender-nos é muito superior à do amigo mais fiel; não apenas porque a sua permanência ao nosso lado é contínua, mas porque capta mais fundo as nossas intenções, desejos e pedidos.

O Anjo da Guarda pode influir na nossa imaginação diretamente – sem palavra alguma –, suscitando imagens, recordações, impressões, que nos indicam o caminho a seguir. Quantas vezes nos terá ajudado a continuar o nosso caminho como a Elias que, perseguido por Jezabel, se preparava para morrer, tal o seu cansaço, sob um arbusto da estrada! Podemos estar certos de que o nosso Anjo, como o de Elias, se aproximará de nós e nos fará entender: Levanta-te e come, porque te resta ainda um longo caminho3.

Nunca nos sentiremos sozinhos se nos acostumarmos a tratar intimamente esse amigo fiel e generoso, com quem podemos conversar com toda a familiaridade4. Além disso, ele une a sua oração à nossa ao apresentá-la a Deus5. É necessário, no entanto, que lhe contemos mentalmente as coisas, porque não lhe é possível penetrar no nosso entendimento como Deus o faz. E então, ele poderá deduzir do nosso interior mais do que nós mesmos somos capazes. “Não podemos ter a pretensão de que os Anjos nos obedeçam… Mas temos a absoluta certeza de que os Santos Anjos nos ouvem sempre”6. Já é suficiente.

O nosso Anjo da Guarda acompanhar-nos-á até o fim do caminho e, se formos fiéis, contemplaremos com ele a nossa Mãe, Rainha dos Anjos, a quem todos eles louvam numa eternidade sem fim. A esse coro angélico, com a ajuda da graça, nos uniremos nós também.

(1) Liturgia das Horas, Segunda Leitura; São Bernardo, Sermão 12 sobre o Salmo “Qui habitat”, 3, 6-8;
(2) Sl 90, 2;
(3) 1 Rs 19, 7;
(4) cfr. Tanquerey, Compêndio de teologia ascética y mística, Palabra, Madrid, 1990, n. 187, págs. 131-132;
(5) cfr. Orígenes, Contra Celso, 5, 4;
(6) Josemaría Escrivá, Forja, n. 339.

Do livro "Hablar con Dios", de Francisco Fernández-Carvajal.

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